A poesia é um rio que corre em mim, sempre em busca de suas nascentes.

PoemArte - Pela janela do meu carro / Susan Lopes: Pela janela


Pela janela do meu carro vejo o atropelo da vida
A morte pedir carona e a indignidade criar vida
Sinto o ar condicionado condicionando minha esquiva
Nos semáforos abertos vejo a esperança se fechar
A direção hidráulica não mata a sede dos sertanejos urbanos
A tensão esferográfica sobrescreve toda a arte ao redor
Meninos de rua sendo homens nos apartamentos da miséria
Homens de negócios em falência de empatia
Malabares, jornais, água mineral, bala, crack
Picolé, paçoca, receita médica, ferida exposta
Batendo no vidro, "Tia, é só um real"
Música em volume alto no ambiente interno
Amortece o sopapo dado pelo ambiente externo
into de segurança que me deixa em corda bamba
Quando o cano ferroso — “da razão" — encosta no para-brisa
Pela janela do meu carro em plena consciência
Sinto-me num parapeito, como um ensandecido suicida.