A poesia é um rio que corre em mim, sempre em busca de suas nascentes.

Vamos repetir de novo!


Vamos bloquear as redes;
Vamos explodir as pontes;
Vamos decepar um braço;
Vamos mutilar um dedo;
Vamos arrancar um olho;
Vamos se fechar num quarto;
Vamos ficar surdo e mudo;
Vamos repetir de novo;
Vamos continuar sem entender,
o que o poeta quer dizer;
Vamos continuar com preguiça de ler;
Vamos assistir TV;
Vamos estuprar nossos filhos;
Vamos matar nossos pais;
Vamos desejar o bem, fazendo o mal;
Vamos praticar o bem, só, no Natal;
Vamos chapar para esquecer;
Vamos pagar no crédito pra ver;
Vamos ralar a tcheka no chão;
Vamos apodrecer nas filas;
Vamos pegar buzu lotado;
Vamos ver nossos afetos serem assassinados;
Vamos votar nas próximas eleições;
Vamos encher o rabo de cachaça pela fé;
Vamos beber, dirigir, mutilar e matar;
Vamos eleger e enaltecer asnos;
Vamos tomar Prozac e Ritalina;
Vamos pôr a culpa no Diabo;
Vamos pedir ajuda a Deus;
Vamos "cotidianar" o último pecado;
Vamos trepar sem camisinha;
Vamos fingir sorrisos;
Vamos perder amigos;
Vamos produzir lixo;
Vamos "idiotabilizar" a arte;
Vamos aplaudir merdas;
Vamos comer câncer;
Vamos esperar que alguém faça.
E quando cansarmos.
Vamos repetir de novo.

Águas do poder


 
 
Ah, pequeninos da aldeia Te’Yikuê
Querem estudar, mas sem água não dá
Sem água não pode, sem ela a poeira cobre
Já não conseguem enxergar as vogais
Já não conseguem enxergar o alfabeto
Não há cume, de onde se possa ver o futuro
Ele se afogou e seu corpo boia
Nas leis dos homens, na "Desordem e Regresso" .
                                                                      Fonte.

A guerra dos ponteiros na trincheira do destino

                                                               


 
I
Por mais firme que possa parecer
Rendo-me às marcas deixadas pelo relógio
A cada “tic”, sinto um “tac”.
 
As horas insistem, e eu persisto
Elas desvendam sonhos e revelam planos
No cruzar afoito de olhares, sinto-me ponteiro.
 
II
Louco para ser abandonado pelas horas
Condeno-me a relojoeiro do tempo
Necessito pará-lo quando você chegar.
 
Sempre faltarão 15 minutos para você ir embora
Já que pararei os ponteiros do relógio humano
Nos 45 minutos da elucubração de seus quartos.
 
III
Quando te encontrar, relógios não nos escravizarão
Seremos nós dois os ponteiros da satisfação
E o alarme, nossos gemidos nas madrugadas.
 
IV
Arrancarei pilhas, tomadas, quebrarei a mica da solidão
Pararei engrenagens e as girarei em sentido anti-horário
Farei o necessário para permanecer em seus braços.
 
 

Pé na estrada



Venha! Não me pergunte para aonde vamos.
Não temas, essa minha tardia alegria.
Me deixe mostrar, do que sou capaz.
Meu sorriso hoje não cabe num "smile".
O horizonte nos espera na verticalidade da [in] noção.
Hoje as nuvens se verão num inferno, com nossa distração.
Sente em minha garupa e sinta o vento nos perfurar.
Agora não importa o que somos ou o que temos.
Porque agora, somos o que fazemos...
Parte do vento.

PoemArte - Tirinha do Dr.Pepper


Idiotas ontem, hoje, amanhã e sempre!

Rebeldes sem causa / Um babaca por vez
Retardados para não perder a vez / Estamos no paredão outra vez
Por não ter o que conversar / Para ter de quem falar
Sempre trocamos a pilha depois que o "herói" se ausentar
500 mil, 1 milhão, 1 milhão e meio
E toda uma nação devastada pelo tsunami da televisão
Zero a esquerda, percentagem mínima, insígnia da destruição
Sialismo da ignorância / Dicotomia cultural única / Ablução cerebral
Somos os rótulos tampados das esquinas da alegria
Hoje acabou, amanhã tem mais
Ano que vem arranjamos tempo para não termos tempo
E numa espiadinha continuarmos como nossa miopia.


Já é carnaval, cidade...



“Já é carnaval cidade, acorda pra ver, a chuva passou cidade e o sol brilha aê...”
Vamos brincar de menina, fazendo menino...
Vamos quilômetros atrás de um caminhão com som...
Vamos gastar dinheiro que nunca se teve...
Vamos afundar a cidade em mijo...
Vamos cobiçar a mulher do próximo, mesmo com o próximo próximo...
Vamos rezar para não pegar herpes...
Vamos colocar músculos, pernas, banhas e estrias à mostra...
Vamos soltar os bichos e as bichas...
Vamos perder as unhas...
Vamos pagar fortunas por um pedaço de pano...
Vamos beber cerveja quente e pular na lama...
Vamos tomar sol e murro na cara sem reclamar...
Vamos se vingar do(a) EX...
Vamos esquecer os problemas...
Porque eles agora não nos afligem...
Agora é Carnaval...
Carnaval: o Alzheimer das desgraças.
Ohhh... Quanta hipocrisia...
“Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu...”
Como ainda não morri...
FUI!

Canção à solidão



Eu sei que está bem frio hoje

Amanheceu nublado e a tarde chegou na hora do almoço

Mas mais frio faz aqui, dentro de mim

Sento na janela sem saber quanto me pesa

E no que aconteceria se meu corpo despencasse dela

Dentro de mim já houve quedas piores

Nas mãos trago o instrumento das emoções

Só ele me faz companhia em minha agonia

E, ao contrário do que muitos pensam, não ouve calado

Fala agoniado, desafinado, acalentado e verdadeiro

Faz-me rezar, sem crer num Deus

Traz-me paroxetina, sem a química

Mas nem sempre é herói...

A minha preocupação aqui

Não é um vento forte, a síndica ou um desequilíbrio repentino

Minha maior preocupação aqui

É uma corda partida, voz desafinada, dedos endurecidos

E o vento levar pra bem longe

A única coisa que gostaria que você realmente escutasse

 Solidão! Presta atenção agora em mim, só em mim

Esta não está nas rádios, não tem nem tons e notas adequados

... mas é pra ti!

Solidão, prometo que se eu desafinar ou desequilibrar

Ninguém vai reparar.