A poesia é um rio que corre em mim, sempre em busca de suas nascentes.

$em depó$ito$


Não precisamos mais de roupas.
Não precisamos mais de comida.
Não precisamos mais de água.
Não precisamos mais de mantimentos.
Só precisamos de seus $entimento$.
 
Os depósitos estão lotados, já não cabe mais nada.
Já no banco! sempre há espaço e cabe mais uns trocados.
Não mandem mais nada aos nossos depósitos.
Não temos mais espaço para caridades.
Mas apenas, por caridade: façam depó$ito$.

Não precisamos de mais itens de higiene.
Não precisamos de mais colchões.
Não precisamos de mais cobertores.
Não precisamos de mais remédios.
Só precisamos de seus $entimento$.

Véu da alma


Caramelos de sal, sorrisos de vaginas.
Folhagens de esqueletos, fé subjugada.
Esqueci meus diamantes no chiqueiro.
Fico tranquilo, estão seguros.
 
Fogo em estufa de cartolina.
Jornal com notícias de catástrofes.
Matriarcais, funestas e solidárias desgraças.
Fuzilamento de inocentes em igrejas católicas.
 
Credos de credores em débitos.
Germinação de ações moribundas.
Néctar de chorumes em pão sírio.
Curto circuito em máquina de datilografar.
Poeta em desespero sem poder gritar.
 
Chupa um caramelo, faz cara séria.
Colhe folhas da árvore genealógica da fé.
Visita o ourives, planta um cacto.
Molha o jornal, mata a mãe e Jesus.
Divide em 3x sem juros, põe o sumo do rancor no congelador.
Morre eletrocutado com o engasgo da alma.

PoemArte - O que seu esqueleto diz? / Allen Ginsberg: Balada dos Esqueletos


E todos estão mortos agora.
Vivos como sempre!
Caminhando sobre virtudes armengadas
A morte sempre trás respostas,
para todos os últimos segundos da vida.
A guerra do mundo, mudou tudo.
Quase tudo - menos o seu mundo.
Continuamos a sobreviver, dialogando com esqueletos.
Esperando resposta de músculos e glúteos.
Ouça o que o mundo diz e mantenha-se surdo
Sinta o que o universo trás, antes do apocalipse matinal chegar.
Fitas, durepox, durex, superbond.
Resista à osteoporose da vida.
E agora. O que seu esqueleto diz?


Gente não é coisa de gente!




Gente não é coisa de gente!
Toda gente feia tem algo bonito.
Toda gente bonita tem algo feio.
Tanto no físico, quanto no intrínseco.
Toda gente fede.  Toda gente caga.
Toda gente morre. Toda gente cospe.
Toda gente que ser diferente.
Todo diferente que ser gente.
Toda gente deveria ser agente,
de transformação e valorização de gente.
Mas gente, como gente.
Nada mais é, e nada mais merece ser,
do que gente!

PoemArte - Pela janela do meu carro / Susan Lopes: Pela janela


Pela janela do meu carro vejo o atropelo da vida
A morte pedir carona e a indignidade criar vida
Sinto o ar condicionado condicionando minha esquiva
Nos semáforos abertos vejo a esperança se fechar
A direção hidráulica não mata a sede dos sertanejos urbanos
A tensão esferográfica sobrescreve toda a arte ao redor
Meninos de rua sendo homens nos apartamentos da miséria
Homens de negócios em falência de empatia
Malabares, jornais, água mineral, bala, crack
Picolé, paçoca, receita médica, ferida exposta
Batendo no vidro, "Tia, é só um real"
Música em volume alto no ambiente interno
Amortece o sopapo dado pelo ambiente externo
into de segurança que me deixa em corda bamba
Quando o cano ferroso — “da razão" — encosta no para-brisa
Pela janela do meu carro em plena consciência
Sinto-me num parapeito, como um ensandecido suicida.

Refém do rascunho

 

Devaneios de uma devassidão devastada


Vocês riem de minha nudez,
porque não podem enxergar a burca de minha’lma.
Vocês dizem que sou louco,
porque não sabem, o que a busca pela sanidade me fez.
Vocês pensam que sou livre,
porque não conhecem as grades de minha prisão.


Entendeu? Ou tá difícil?


O Poeta envergonhado

 
O poeta envergonhou-se
Não teve jeito
Forçadamente caiu na farra
Mesmo sem fanfarras
Agradeceu por ser pedra.

O resgate



Saindo dos escombros da placenta
Apresento-me à vida
Sou inocente, por favor, não me machuquem.