A poesia é um rio que corre em mim, sempre em busca de suas nascentes.

Ânimo


Eu não sinto ânimo para ouvir minha banda favorita
Eu não sinto ânimo para comer o churros da esquina
Eu não sinto ânimo para comer abará com café
Eu não sinto ânimo para ligar para a garota que me alucina
Eu não sinto ânimo para ver um filme do Almodóvar
Eu não sinto ânimo para fazer aquele suco colorido
Eu não sinto ânimo para noitadas de sextas
Eu não sinto ânimo para o apocalipse
Eu não sinto ânimo para surubas com intelectuais irlandesas
Eu não sinto ânimo com a casa nova
Eu não sinto ânimo com atrações mútuas no Badoo
Eu não sinto ânimo com o WiFi liberado
Eu não sinto ânimo com o festival de filmes iranianos
Eu não sinto ânimo com a nova temporada de Dexter
Eu não sinto ânimo com o cheiro de pão vindo da padaria
Eu não sinto ânimo com a chegada do Carnaval
Eu não sinto ânimo com o assassinato de políticos
Eu não sinto ânimo com o feriado prolongado
Eu não sinto ânimo em nada
Sinto apenas a animosidade da festa da vida
Sobre o meu cadáver fora de moda e ainda vivo.